Força-tarefa da Polícia Federal,
Transparência e Procuradoria encontra problemas em repasses de verbas públicas
para eventos culturais que provocaram rombo de R$ 180 mi no Tesouro
A Polícia Federal investiga fraudes em 250 contratos sobre a Lei Rouanet
que não passaram pela fiscalização do Ministério da Cultura. A informação foi
divulgada pela PF nesta terça-feira, 27, após a deflagração da Operação Boca
Livre, em parceria com a Procuradoria da República e o Ministério da
Transparência. A organização criminosa agia desde 2001.
Um efetivo de 124 policiais federais saiu às ruas para cumprir 14
mandados de prisão temporária e 37 de buscas em dez empresas de grande porte de
São Paulo, Rio e Brasília que se teriam beneficiado do esquema montado por uma
companhia promotora de eventos culturais, o Grupo Bellini, de São Paulo.
A PF fez buscas no Ministério da Cultura. Ninguém foi preso na Pasta.
O dinheiro captado junto ao Ministério por meio do incentivo da Lei
Rouanet era usado para shows e eventos particulares. Segundo o ministro da
Justiça, Alexandre de Moraes, a verba servia para o ‘enriquecer fortunas
pessoais’.
Boca Livre mostra que até dinheiro liberado oficialmente para eventos
infantis e difusão de atividades indígenas foi desviado para custear gastos com
a contratação de orquestras para festas de fim de ano de empresas.
Nos autos da Boca Livre há imagens e dados de um casamento suntuoso na
praia do Jurerê Internacional, em Santa Catarina de um filho do empresário
Antonio Carlos Bellini Amorim, alvo da investigação.
“Essas distorções foram identificadas ao longo da investigação, isso
está muito bem materializado nos autos”, declarou o delegado Rodrigo de Campos
Costa, da Delegacia Regional da PF de Combate e Investigação contra o Crime
Organizado.
A PF identificou fraudes ‘grosseiras’ – projetos duplicados, copiados.
“Beira mais de 250 projetos maculados por irregularidades”, disse o delegado.
“A investigação mostrou que eles não foram fiscalizados. A razão vamos
determinar nessa segunda fase do inquérito, a partir da análise do material
apreendido e dos dpeoimentos.”
A PF informou que a fraude ocorria na modalidade isenção fiscal.
“Basicamente, um grupo investigado apresentava projetos junto ao Ministério da
Cultura para captação de recursos junto à iniciativa privada”, relatou o
delegado. “Uma vez deferido o projeto, feito o trâmite burocrático, o grupo
procurava as empresas, mas com a obrigação de promover eventos relacionados à cultura.
Na verdade, o objetivo da lei não foi atendido, muito menos atingido.
Verificamos realização de eventos privados, fechados e sem cunho cultural,
conforme a Constituição exige.”
A PF e o Ministério da Transparência sustentam que ‘várias fraudes foram
identificadas, como superfaturamento e produtos fictícios, apresentação de
notas fiscais sem que o serviço fosse efetivamente prestado, projetos
duplicados, a mesma foto, o mesmo folder, os mesmos requisitos. Só mudavam o
nome do projeto e a contrapartida para as empresas que patrocinavam os eventos
era a dedução de imposto de renda.’
“Era um toma-lá-dá-cá”, declarou a procuradora da República Karen Lousie
Kahn, que integra a força-tarefa da Operação Boca Livre. “As empresas ganhavam
duplamente na medida em que eram beneficiadas com as deduções de Imposto de
Renda. Além disso, existia a contrapartida como uma condição para que
patrocinassem os projetos. Havia o superfaturamento. Era uma forma de
aumentarem seus lucros, se valendo, se aproveitando desse superfaturamento que
acabava revertido para o seu próprio proveito.”
Boca Livre indica que o grupo que supostamente promovia os eventos
captava os recursos ‘com facilitações’ no âmbito do Ministério da Cultura.
“O Ministério não só propiciava as condições ideais para a aprovação
desses projetos forjados como também exercia uma fiscalização pífia ou nenhuma
de uma forma dolosa para que esses projetos plagiados, copiados, repetidos, não
fossem identificados como tais”, esclareceu Karen Kahn.
A procuradora reiterou que as empresas ‘se beneficiavam com a isenção,
além do superfaturamento’.
“O valor era partilhado entre esse grupo criminoso e os patrocinadores
revertiam esses valores em benefícios como eventos de fim de ano, livros que
falavam da trajetória profissional da empresa, entre outras benesses.”
Segundo o Ministério da Transparência, ‘a organização era responsável
pela proposição de iniciativas junto ao Ministério da Cultura e também junto à
Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo para a aprovação e
utilização de verbas de incentivo fiscal previstas na Lei Rouanet’.
“A Operação verificou que eventos corporativos, shows com artistas
famosos em festas privadas para grandes empresas, livros institucionais e até
mesmo festa de casamento foram custeados com recursos de natureza pública.”
COM
A PALAVRA, O MINISTÉRIO DA CULTURA
“As investigações para apuração de utilização fraudulenta da Lei Rouanet
têm o apoio integral do Ministério da Cultura (MinC), que se coloca à
disposição para contribuir com todas as iniciativas no sentido de assegurar que
a legislação seja efetivamente utilizada para o objetivo a que se presta, qual
seja, fomentar a produção cultural do País.”
COM
A PALAVRA, O ESCRITÓRIO DEMAREST
“O escritório Demarest Advogados vem a público prestar esclarecimento
sobre a “Operação Boca Livre” da Polícia Federal, que nesta manhã esteve em seu
escritório em São Paulo.
O objetivo da visita foi a solicitação de documentos e informações
relacionados a empresas de marketing de eventos que prestaram serviços ao
escritório no âmbito da Lei Rouanet. Tais empresas são alvo da operação. O
escritório enfatiza que não cometeu qualquer irregularidade, e informa que
colaborou e continuará a colaborar com a investigação.”
COM
A PALAVRA, A KPMG
“A KPMG no Brasil informa que não é objeto de investigação na denominada
Operação Boca Livre conduzida pela Polícia Federal. O fato da PF comparecer ao
nosso escritório se deu pelo cumprimento de diligência para coletar documentos
referentes a contratos com empresas de publicidade e propaganda (alvos da
investigação) e que prestaram serviços para a KPMG no apoio a projetos
culturais.
A KPMG, certa de que não cometeu qualquer ato ilícito, está e continuará
a contribuir com as autoridades de maneira transparente para o fornecimento das
informações necessárias.”
COM
A PALAVRA, A SCANIA
“A Scania informa que tomou conhecimento hoje pela manhã da operação
Boca Livre deflagrada pela Polícia Federal. Esclarece que não tem mais
informações, mas está colaborando integralmente com a investigação e à
disposição das autoridades.”
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